quarta-feira, 7 de julho de 2010

A nostalgia da ignorância

A Ignorância, Milan Kundera - Opinião

"...a nostalgia aparece como o sofrimento da ignorância. Tu estás longe, e eu não sei o que te acontece. O meu país está longe, e não sei o que se lá passa... a obsessão do regresso...A Odisseia, a epopeia fundadora da nostalgia..."

Relatando a sua preocupação com a nostalgia e a ignorância, é na definição destes dois conceitos que se fundem e complementam que Milan Kundera disserta sobre a dificuldade de regresso à pátria abandonada ou que o abandonou!?

A memória que se tem do nosso país outrora massacrado e derrubado justifica em certos casos a ausência de nostalgia, «o doente sofre de deformação masoquista de memória» e por deformação da memória, os amantes confundem sentimentos e alegram-se com estranhas coincidências - "(...) nunca se sente tão penetrada de beleza como quando a nostalgia do seu primeiro amor se confunde com as surpresas do seu novo amor(...)."

Dilatando as nossas concepções sobre memórias, tempo de vida vivido, histórias armazenadas e outras esquecidas, Milan Kundera leva-nos até ao momento de regresso à nova e restaurada República Checa, onde o amor, um estranho amor lhe impele o desejo de retorno.

"(...) um dia saberemos e compreenderemos muitas coisas, mas será tarde demais...a vida terá sido decidida numa época em que não sabíamos nada!"

A emigração, os filhos, o casamento, a dúvida e os dilemas existenciais da vida, revividos na possibilidade de um regresso que não se sabe se é mais ou menos desejado, face à convivência já pouco justificada para se continuar emigrado!

Tal como as Edições ASA o classificaram, «Pequenos Prazeres da Literatura», Milan Kundera oferece-nos um pequeno prazer, mas uma grande reflexão!

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