quinta-feira, 13 de julho de 2017

«O Francoatirador Paciente» de Arturo Pérez-Reverte - Opinião


Julgo poder considerar-me apreciadora de graffiti, no entanto, aprecio mais a vertende domesticada e acarinhada actualmente, aquelas obras feitas com tempo e autorização, que embelezam empenas inteiras de edifícios mais ou menos degradados, mas sempre com um cariz de atracção cultural. Neste livro, o grande debate é esse: o graffiti puro, de origem, não pretende ser domesticado e respeitar normas relacionadas com arte, seja ela urbana ou não. Um writer, um graffiter, deve manter-se clandestino e ser um provocador, só assim terá o respeito dos outros e manterá viva a tradição ou a origem da sua arte.

O livro de Pérez-Reverte foi para mim uma surpresa e uma estreia, nunca havia lido nada do autor espanhol, largamente aclamado pela critica, e fiquei fã. A sua escrita ensina, sendo esclarecedora, mas nunca cansativa; mantêm o ritmo e o suspense, sem sequer recorrer a cenários violentos ou descritivos, deixando sempre mais para a imaginação do leitor e ainda é capaz de cruzar uma escrita de viagens que nos deixa a passear por aqui e ali nas várias cidades que a sua escrita visita. 

"No meu segundo dia em Lisboa, os mapas do tempo situaram a cidade entre duas frentes invernais. O sol estava alto num céu azul vagamente enevoado e a luz do meio-dia iluminada a Casa dos Bicos quase na vertical, projectando um curioso efeito de centenas de sombras piramidais nos adornos do edifício."

Nesta incursão por Lisboa, para tentar rastrear a obra e a presença de um writter, seguimos a scout Alex Varela. A procura por Sniper, uma lenda viva desta guerrilha urbana, que expõe nas paredes as suas obras e assinatura, peças que se deterioram dia após dia, mas que são respeitadas e idolatradas. 

"O mundo da rua é um mundo veloz, se não te mantiveres nele, desapareces."

Tal como desaparece e reaparece, Sniper é veloz e o seu paradeiro indefinido. Encontrá-lo significa entrar nos meandros de um submundo que se torna perigoso, pois as ratazanas (writtes "verdadeiros" e muitos toys de throw up) mais dedicadas à arte de rua e à sua tribo, não apreciam, nem o emburguesamento nem as estratégias actuais, que têm vindo a domesticar alguns dos grandes nomes. 

"Se é legal não é graffiti" 

É um lema e o debate é bastante constante e até acesso em várias partes do livro. Para quem gosta do tema é um must read, para quem aprecia um livro que imprime um bom ritmo de leitura, também. E claro, para os apreciadores das narrativas de Peréz-Reverte. 
Eu fiquei fã e vou ler outros do autor. 

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