terça-feira, 2 de abril de 2013

«Os Guerreiros do Arco-íris» de Andrea Hirata - Opinião

O que faz um livro quase a preto e branco ter um título tão colorido!?
É o mesmo que acontece com a história, que tem tudo para ser descolorada e insípida, mas resplandece cor, magia e força ... os pequenos grandes guerreiros brindam-nos com uma história de fé. Sim, FÉ! Fé na humanidade, no poder das escolhas, no imaginário de quem confia e dá, dá incondicionalmente.


Amar makruf nahi mungkar

«Faz o que é bom e evita o que é mau.»
O livro de Andrea Hirata está recheado de pequenas premissas  que parecem insignificantes e banais, mas que representam o que de mais simples pode ter a vida e que por vezes é tão difícil praticar. Por isso, pela mão de 10 crianças pobres e quase sem direito à educação chegamos até Belitong, Indonésia onde uma escola luta por ter 10 crianças, para garantir que podem exercer o seu direito a ensinar (sem pagamentos, sem condições, sem materiais...).
A escola - Sekolah Dasar Muhammadiyah - onde o lema Amar makruf nahi mungkar prevalece enaltece o espírito de quem ensina e de quem aprende. Tendo a educação como um bem maior, como a aventura da partilha, como a corrida ao pote de ouro!

O livro é também um olhar atento ao potencial de cada criança, como tudo o que cada um - sem excepção - tem para oferecer aos demais que a envolvem. A presença de Harun é uma benção, é a salvação, é o atingir do número perfeito através da imperfeição e da deficiência, salientando mais uma vez o poder da dedicação, da aceitação e da inspiração que todos poderão ter para oferecer ao outro.

A raridade de pessoas como Pak Harfan ou a autenticidade de Bu Mus irão deixar marca nas crianças, que todas, a seu próprio género e modo, moldam as suas vidas, com a influência que lhes é possível ter.
A excentricidade de Marah, o misticismo de Flo ou A Ling e as unhas perfeitas, Kucai e a sua política ou o dom de Lintang e a paixão de Ikal são pequenos detalhes que fazem a beleza e a simplicidade deste relato.

Um livro despretensioso, sem arrogância, mas recheado do brilhantismo infantil, de quem acredita no poder do sonho, sonhar leva-nos mais longe, exaltando assim o que de melhor tem a infância.

Laskar Pelangi que significa Guerreiros do Arco-íris é igualmente um livro sério, retratando a pobreza, fazendo uma forte crítica ao estado da educação e dos direitos humanos na Indonésia (anos 80, essencialmente) e também à colonização e exploração dos recursos da ilha por parte de grandes companhias.

"A profundidade do mar é imensurável, a profundidade de uma mentira é imprevisível."

Andrea Hirata consegue ainda arrancar-nos algumas gargalhadas com comparações tão improváveis e episódios hilariantes e simplórios, que nos fazem repensar o valor que damos ás coisas e às pessoas na nossa vida e se isso ainda não chegar Lintang e o homem pinheiro serão capazes de chegar a corações mais duros!



O lema dos Laskar Pelangi era ser capaz de "dar tanto quanto nos fosse possível, não tirando tudo o que nos fosse possível."


É o sopro da educação nas personagens de Pak Harfan e Bu Mus!

Uma aposta da Editorial Presença



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