segunda-feira, 13 de julho de 2015

«Lorde» - João Gilberto Noll - Opinião

Acumpliciando-me de «Lorde» de João Gilberto Noll que foi uma leitura intrigante, já que me deixou com algumas perguntas:
Isto é uma autobiografia?
Foi tudo real?
São simplesmente delírios do autor?
Divagações na busca de auto-conhecimento?

Depois de procurar alguma informação sobre o autor podemos enquadrar este livro numa (pseudo) autobiografia, sendo também um romance "Lorde", reflexo da experiência vivida pelo autor em Inglaterra, onde foi escritor-residente do King's College (Londres, 2004).

Entrando no livro somos levados a conhecer uma personagem que vive no Brasil e é convidada para ir a Londres por um estranho que pouco lhe explica sobre o motivo da sua ida.
Aliciado por uma residência e um pouco de dinheiro para viver, a nossa personagem passa a viver assim em Londres, por onde vagueia e divaga. Passando a maior parte do tempo a andar pelas ruas e a visitar museus gratuitos.

Sem ter muito a que se dedicar, dá por si em delírios, alarmado, pensa que vai ser repatriado ou que passará o resto da sua vida numa prisão inglesa. Isto sem motivo aparente, pois não há nada que revele ao leitor que indicie algo de errado, relevando assim alguma paranóia.

Neste «Lorde» vamos descobrindo uma personagem que deixa de saber quem é e que tenta trocar a sua maneira de ser. Um homem que tem problemas com a sua imagem e que o leva a ter atitude estranhas e até a duvidar de tudo e de todos, inclusive do seu cicerone.

"Não precisava mais dos espelhos dos banheiros públicos, nem do meu próprio em casa, eu era Apis, poderia andar a pé por toda Londres se assim me apetecesse...."

Durante o decorrer dos seus passeios encontra-se com as mais variadas personagens, algumas que lhe despertam os sentidos sexuais a única coisa que ainda o faz pensar que está vivo.

"Um tesão queria despertar, eu sentia, era um fluido que passava por toda a coluna vertebral e quando chegava na parte inferior se acumpliciava com meu pau e o deixava sufocar na posição de bruços..."

Julgo que o livro está recheado de metáforas e interpretações da vida, na busca pela própria identidade, perante um homem, que se sente um personagem invisível, cada vez mais a desaparecer como se ninguém o visse ou lhe ligasse.

"Mantive-me mudo a refeição inteira. Qualquer anseio de palavra que vinha até a garganta se esfarinhava ao menor esboço da língua. O meu verbo perturbaria. Agora só faltava ficar invisível...."


Aconselho a todos aqueles que gostam de ler coisas diferentes, mais introspectivas... estranhas até!


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